quarta-feira, 28 de maio de 2008

O vestibular e a cultura do diploma


   O vestibular - esse ritual cruel pelo qual jovens brasileiros de classe média para cima são obrigados a passar - revela um descompasso entre o sistema universitário brasileiro e as demandas do mercado profissional moderno.
   No Brasil garotos de 17 anos são obrigados a tomar uma decisão que, teoricamente, vai marcar toda a sua vida. Quem conhece jovens nessa faixa etária sabe do absurdo que é impor a eles decisões desse porte.  
   O adolescente está começando a experimentar o mundo de forma independente, está testando os limites de tudo, e por isso, erra, muitas vezes de forma literalmente fatal.
   O erro está na natureza da experimentação e o importante é que o jovem seja incentivado a continuar experimentando. É assim que qualquer um cresce e amadurece. Aliás, uma das coisas chatas da velhice é que muitos começam a ficar com medo de experimentar, e vira aquele tédio danado.
   Mas o vestibular - e, mais especificamente, o sistema universitário brasileiro - despreza tudo isso. Impõe um ritual em que o erro traz o risco de "não dar certo na vida". É antipedagógico: diz ao adolescente que ele, agora, não pode mais experimentar.
   Na década passada, a PUC de São Paulo tentou implantar o Ciclo Básico. No lugar de escolher imediatamente seu curso, o estudante fazia dois anos de conhecimentos gerais na universidade. Só depois disso é que definia sua área.
   Não deu certo. A cultura brasileira já está de certa forma habituada a esse ritual e exige uma definição precoce do jovem. A PUC começou a perder alunos e voltou ao esquema anterior.
  Nos EUA, o curso de graduação é chamado de "undergraduation", ou subgraduação. É muito mais parecido com o ciclo básico que a PUC experimentou do que com a tradicional graduação universitária brasileira.
   Os jovens americanos já entram na universidade sabendo que farão uma pós-graduação - que lá se chama "graduation". É nela que se especializarão. A "undergraduation" é uma fase de experimentação.
   E o que isso tem a ver com o mercado profissional? Hoje, acima de qualquer coisa, o profissional precisa ter uma formação ampla - em línguas, geografia, história, antropologia, literatura. É esse o profissional que consegue se adaptar melhor à estonteante velocidade com que as coisas estão mudando.
   Mas no Brasil, não. A cultura é cartorial: todos querem receber o mais rápido possível um papelzinho que o define como profissional: médico, jornalista, engenheiro... Mesmo que isso indique que ele não vai conseguir emprego na área em que se formou.
   Há novas experiências de vestibular em curso no Brasil - como a avaliação continuada no ensino médio (2º grau), em que o jovem faz exames ao longo de três anos, escapando da prova única e definitiva.
   Mas isso é apenas o começo. O que precisa mudar não é nem tanto o procedimento de seleção de alunos e sim a especialização precoce que está sendo imposta pelo sistema universitário brasileiro.
  E é esse sistema - responsável pela produção de conhecimentos na sociedade - que tem de apontar para uma mudança cultural na qual essa especialização precoce, simbolizada pelo diploma de graduação, deixe de ser tão valorizada pelos brasileiros.
   O profissional do século XXI terá de estudar a vida toda. 

Fernando Rossetti é repórter da Folha de São Paulo.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

"Quero"

Quero
por Carlos Drummond de Andrade

Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.

Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?

Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.

Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.

No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.

Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.

 

Carlos Drummond de Andrade
(escritor brasileiro, 1902-1987)

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

"Pelo sonho é que vamos"

Pelo sonho é que vamos
por Sebastião da Gama 

Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia a dia.
Chegamos? Não chegamos?
- Partimos. Vamos. Somos.


Sebastião da Gama
(poeta e professor português, 1924-1952)

6º Ano A/C 2023 - Trabalho do Livro "O pequeno príncipe", de Antoine de Saint-Exupéry

  Pessoal: Faremos um mapa mental como trabalho do livro "O pequeno príncipe", de Antoine de Saint-Exupéry. Usar LETRA LEGÍVEL. Po...